quarta-feira, 17 de junho de 2015

O HOMEM DESEJA SER VIRIL OU TER PRAZER SEXUAL?

Todos nós recebemos a influência de um entrelaçamento de fatores orgânicos, psíquicos, sociais e culturais. A cultura influi na formação das sociedades que variam com o lugar em que se estabelecem e com a época vigente. Em meio a tantas variáveis existe uma constante nos seres humanos: a sexualidade. Inerente aos seres humanos, passou a ser utilizada como uma forma de controle social. Com o Cristianismo podemos ilustrar claramente esse controle em relação ao comportamento sexual através da Igreja, que  estabelecia regras, permissões, proibições, e confissões.  A esposa devia ser casta, e suas relações sexuais visavam a reprodução e não o prazer. O sexo prazeroso era realizado em  "Casas de Tolerância", ou "Casas da Luz Vermelha", que, por assim dizer, sinalizavam a disponibilidade para o homem exercer sua virilidade.

Atualmente algumas sociedades passam por momentos de transição e de mudanças rápidas, sobretudo na mulher, que vem buscando realização, ficando mais exigente com a satisfação de suas necessidades, o que, em outra época, era negado.

No desempenho sexual masculino uma constante tem sido a ansiedade frente a um papel masculino viril, ao medo de falhar, e frente à possibilidade de proporcionar ou não prazer - menos preocupado com o outro e mais com a auto-imagem de homem capaz. Apesar das mudanças que vêm ocorrendo, a maioria dos homens ainda sente, reage e se comporta assim. 

Recebemos valores que nos incentiva a viver para possuir, e não para ser, o que alimenta a competição, a preocupação com o poder. Podemos perceber uma necessidade de supremacia do homem sobre a mulher, que vem de tempos remotos. Essa necessidade de afirmação social sobre a mulher está ligada à virilidade como centro de tudo. Símbolo de poder desde as antigas civilizações. Uma frustração social masculina abala a imagem, o poder, a virilidade, e, consequentemente,  acarreta transtornos na sexualidade.

Esses valores cruéis e irreais fazem com que o homem no ápice  do seu potencial sexual já não esteja feliz. Ter que ser viril a todo instante o afasta do prazer sexual porque implica em obrigação, não há um relaxamento mas uma cobrança, e o sexo deixa de ser bom. A sexualidade masculina é uma forma de poder, de dominação. O adolescente é cobrado a tornar-se homem. E ser homem se resume em ter um bom desempenho sexual. Comportamentos como a entrega na relação sexual, ao encontro, ao presente, à capacidade de descobrir a si mesmo, à sensibilidade de perceber o outro, não são estimulados, e se confunde quantidade com qualidade, ou,  prazer na relação sexual. O homem não se assume como um ser real, com sentimentos e emoções.

A sexualidade não é reconhecida na infância, é permitida e estimulada na adolescência para o sexo masculino, como também na fase adulta, e vem a ser proibida na terceira idade. O idoso desiste de suas potencialidades e realizações sexuais antes do tempo. Portanto, homens e mulheres se prejudicam em todas as etapas de suas vidas, pelo seu enquadramento no social. 

O que faz um homem se sentir mais ou menos viril, é a quantidade da prática sexual? É possuir muitas mulheres? Um estudo realizado com homens em diferentes faixas etárias na década de 80 - 1986 a 1988, por Gilda B. Fucs - verificou que o comportamento sexual masculino varia de acordo com a cultura. Constatou-se uma maior facilidade em falar sobre a sexualidade nos mais jovens, que relataram conversar sobre sexo em casa com os pais ou na escola. Conversas que estavam mais relacionadas à reprodução e enfermidades do sexo. Mas os jovens encontravam dificuldade em falar sobre suas próprias vivências sexuais. Os mais velhos demonstraram o antigo tabu de falar sobre sexo, e receberam informações sexuais na infância através de amigos. Todas as faixas etárias falaram mais facilmente sobre auto-manipulação e jogos heterossexuais, porém, negaram desejos, fantasias ou atos homossexuais. Evidenciou-se também a diminuição do tabu à virgindade, pois que os mais jovens se iniciaram sexualmente com namoradinhas e não com prostitutas, ou empregadas domésticas, práticas comuns aos mais velhos.

Será que a imagem do homem viril continua mantida com a mesma força de antes? Percebe-se que hoje os jovens tendem a ser mais esclarecidos e têm melhor condição de se iniciarem sexualmente, mas ainda recebem modelos machistas de comportamento acerca da importância de ser viril, ter ereção facilmente e obter orgasmo. Modelos esses que por vezes os confunde ou os deixa ambíguos. Em verdade essa pressão social em nada contribui para que realmente a ereção e o desejo aconteçam facilmente. Não obstante, já existem homens que questionam esses valores, são mais abertos e estabelecem uniões mais livres.  E esse é o o modelo real, natural de um homem, que melhor combina com a nova versão da mulher, pois se preocupam mais com a qualidade da relação, buscam o prazer e não a performance sexual, e visam não só a própria satisfação como também a da pessoa com quem estiverem interagindo na relação, que afinal, é dos dois.